A moça e o sapinho

O que a moça busca num site de escritores?

Foucaut? Oh, no!

Ser, ela, uma renomada a redescobrir a roda?

Ser a ela a fonte de luz aos que, nas sombras,

procuram catar miúdas lascas de saber?

Um pouco, sim. Mas não se creia nisso como total.

Algo melhor ela espera,

além da obvia busca da evidência

em que todos almejamos postular:

queremos mesmo ser os ‘tais’.

Nós, a legião de poetas não lidos:

legião de seres não ouvidos,

legião de incompreendidos.

A moça quer mais que isso.

Quer um moço.

Sim. E isso, no fundo,

é o máximo que uma moça pode querer –

ainda que ela tenha se formado em Harvard

(seu jardim de infância é vivo como neurônio vivo).

Um moço.

Porém, não um moço qualquer.

Um moço com quem, sim, possa conversar.

Um moço que não a use.

Um moço que a ame.

Que seja seu brincante amiguinho de tenra idade.

Que seja seu companheiro perdido em selva escura.

E, como na letra do Caetano: ela é “apenas uma mulher”.

Mas o moço não é aquele que sumirá na madrugada...

Este moço é um.

Não é d’outros.

Este moço quer sua pele branca de moça, salgada

de suor e de desejo açucarado, com pimenta e ervas.

Este moço é um homem

que brinca de ser menino –

não seria o contrário?

Luc é o nome de um sapo indefeso

(aos olhos inocentes dos biólogos).

Luc possui glândulas

que secretam gás lacrimogêneo orgânico.

Luc é o bichinho de estimação da moça.

E estimação, vocês sabem como é,

Vem da palavra estima,

Que tem a ver com apego,

Apreço,

(...)

Amor.

Mas novas pesquisas

Feitas por físicos espertos,

Conseguiram revelar –

Através de micro-amplificadores de ruído –

Que o sapinho emite sons inteligíveis.

Ele diz: sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim. sim, sim, sim, sim, sim, sim. sim, sim...

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 11/08/2007
Reeditado em 18/05/2008
Código do texto: T602234