HINO À VIDA
Eu tenho aquela velha sensação de que tudo já foi...
O velho ar blasé dos entediados e dos fodidos
Já não grito nem esperneio mais, sou silencioso como um cadáver
Creio num Deus mais elegante e dantesco do que este que vocês adoram
Sou uma sobra das estrelas que morreram
Nada além de um pingo de uma água venenosa, podre e esquecida
Não vivo, só rastejo...
Numa gosma fétida e disforme onde outros pisaram, nela sou ímpar
Não conheço pares, não vivi algo original, sou uma massa de restos conjugados...
Queria ter uma classe indistinta, uma estirpe a qual pertencer...
Mas só calo e leio...
Só escrevo e durmo...
Só espero e espero...
Até os deuses se chatearem e me chamarem de volta
Ou a natureza me engolir, ciente do erro que cometeu.