Sexto Sentido

De que me servem todos estes tantos sentidos
que me foram dados como presentes por Deus,
se não posso desfrutar desse tudo que é teu,
não mais, tornando minha vida sem sentido?...
De que me serve a visão, se estou impedido
de ver os detalhes do tudo que és, ver teu vulto,
mirar o templo de tuas coxas, onde em culto
me encontrava, mesmo que não estando perdido?...

De que me serve a audição, se não ouço os gemidos
entoados em teus murmúrios, em teus doces cantos,
transformados em sepulcral silêncio em nosso recanto,
e já nem mais ressoam como antes em meus ouvidos?...
De que me serve o paladar, se já não sinto na boca
o doce sabor de teus lábios, de teus candentes beijos,
do agridoce de teu mais íntimo ao saciados teus desejos,
ao ver-te revirar em nosso leito, insana, feliz e louca?...

De que me serve o olfato, se até mesmo teu olor
que se impregnou em minha pele, em nossas camas,
nas tantas vezes em que apascentamos as chamas
da paixão guardada nos peitos por séculos de amor?...
De que me serve o tato, se meus dedos ora estáticos,
já não tecem arabescos em teu ventre, em tuas costas,
percorrendo todos teus descaminhos, como tu gostas,
buscando o caminho que juntos aprendemos, didáticos?...

De todos aqueles, talvez o que me preste seja o da intuição,
que me diz que não és quimera, que mais dia menos dia
voltarás a meus braços e cantaremos em dolente poesia
esse tempo de espera... por isso mantenho aberto o portão.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 08/06/2017
Reeditado em 13/01/2020
Código do texto: T6022097
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