A metafísica do café

Perco-me, em certas manhãs,

Dentro de mim. Labirinto pantanoso

de incertezas, nebulosa penumbra .

Distinguo uma luz

Tangível, viva, real. Palpável

como a maçã que há pouco devorei com ferocidade.

E quando disparo em sua direção

ela se apaga. E acende-se novamente

nos confins do infinito contralateral

ao pífio espaço em que vigia e repousa

minh'alma e corpo.

E, desorientada, mergulho em soturno oceano

ébrio de solidão e angústia e dúvida.

E, dentro de mim, morro no ápice da existência.

Deixo meu espírito deteriorar-se

na inércia da incerteza profunda,

na perpétua morosidade da ausência,

na dissolução das trilhas delimitadas

por onde se pode seguir com certidão e

na plenitude do Ser dentro de si.

Invagino-me, torno-me em completude

submersa no Interno.

Degusto de etérea imortalidade, totalidade do Eu.

Torno-me Tudo o que há. Vivo tudo o que sou.

E fecundo infinitos questionamentos

Jamais respondidos

Mas que carregam em si resposta intrínseca: apenas por existirem.

Passo um café e nele

projeto toda a metafísica do Universo.

E sua borra, negra, molhada e seca

Esconde em versos indistinguíveis, incompreensíveis, inalienáveis

Todo o futuro da Humanidade.

Encontro no café novamente a luz

A luz vem

Ca fé.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 07/06/2017
Reeditado em 22/06/2017
Código do texto: T6021395
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