A Árvore...
Existem muitos de mim.
Não estranhe. Vou falar de uma única árvore, que também é muitas...
Um dia passei por ela, eu era um velho numa estrada e o sol estava forte na ocasião. Para mim, aquela árvore era um oásis! E a sua sombra fresca, a coisa mais valiosa para mim, em muito tempo.
Um outro dia eu passei por ela, outra vez. Eu era um jovem, e tinha muitas coisas em mente. A primavera da vida me deslumbrava, e as tantas possibilidades que se desenhavam perante mim me deixava encantado. E tantos eram esses deslumbramentos... que eu não a vi! Ela não significou nada... Não havia nada lá para mim. E ela era nada!
Há muito tempo eu fui um inseto... Aquela árvore era um mundo inteiro! Eu não a via como árvore, porque da dimensão do meu tamanho, eu não conseguia vislumbrá-la como um tronco ramificado, coroado de folhas e de flores. Uma única folha para mim era como uma cidade inteira... Então, a árvore era um mundo inteiro. Não existia nada além dela, para mim.
Como o vento que fui, eu não a via. Apenas sentia-a resvalando-se em mim. Ela era uma conjugação de sensações, como uma cócega, aqui e ali... nos espaços indecifráveis do meu ser. Eu sentia uma ou outra folha balançar em minhas entranhas, mas para mim não eram folhas. Eram cócegas.
Quando fui uma criança, ela foi para mim uma amiga. Ela sempre foi a outra ponta onde eu amarrava a minha corda. Onde eu subia nos meus domingos ociosos.
Quando fui um rico industrial, que precisava daquele terreno para multiplicar a minha fortuna, ela foi pra mim uma inimiga. Eu desejei arrancá-la pela raiz e queimá-la, e erguer no lugar dela uma torre de vidro para arranhar o céu, e mostrar a todos o meu poder!
Ela foi a minha casa, um dia, quando fui um pássaro. Até hoje pode se ver, depois do terceiro galho, do lado esquerdo onde bate o sol da manhã no solstício de inverno, o buraco onde morei e construí o meu ninho.
E por último, hoje pra mim ela é uma lembrança. Uma lembrança das infinitas possibilidades, e da infinita ignorância.