Fotografia © Ana Ferreira
DORES LÍQUIDAS
Daquelas tardes ainda tenho memórias
que sibilam vivas nas teias da mente,
serpenteiam, ondulam círculos perfeitos
na superfície da água de que sou feita.
Daquela brisa há lembranças também,
nas tardes de outono soprando mansinho,
roubando as folhas da árvore mãe,
para com elas dançar devagarzinho.
Lembranças daqueles ternos dias, tão meus,
da felicidade de ser feliz sem saber que se é...
Este imenso rio que hoje chora em mim
não sei de onde vem nem em que fontes nasceu.
Esta melancolia que me vem com o inverno,
traz-me dores líquidas, neste peito as derrama,
leva-me de mim como se ave eu fosse...
Hoje doem-me todas as dores de amanhã,
Dentro de mim queimam como chama...
Ana Flor do Lácio