BARBALHA

Barbalha altiva, berço meu,
abençoada terra, rincão meu,
minha mamadeira de méis,
quentada nas chaminés,
cúmplice da minha puberdade,
do meu grito de liberdade,
e sob a tua proteção maternal,
eu era potro, solto, no canavial.
Barbalha de Santo Antonio,

do Brasil és patrimônio,
verde esperança do  Ceará.
Quantas saudades eu tenho
dos apitos dos engenhos
no preguiçoso despertar,
das marcantes brincadeiras,
correndo nas ribanceiras,
irreconhecível de lama;
das minhas bundas canastras,
nos fofos bagaços da cana,
das investidas sem compostura
nos doces pedaços da rapadura.
Barbalha, fachos de preceitos,
mãe liberal, sem preconceitos,
do rio Salamanca a banhar,
da Rua do Fogo, onde fui parido,
do meu Grupo Escolar querido,
Senador Martiniano de Alencar,
da minha professora Angelita,
com suas instruções benditas;
Barbalha do meu Cine Odeon,
lindo!, rústico, sem neons
dos meus banhos nas chuvas,
das  caçadas às tanajuras,
das minhas gaiolas e canários,
dos meus improvisados cenários,
das brincadeiras no curral de gado,
onde meu umbigo está enterrado
e, nas raízes da cana, entranhado.
Barbalha, onde ganhei meu nome,
e o babaçu entreteve minha fome,
jamais eu deixarei de te amar,
melífera do Cariri, oásis do Ceará.

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Livro Achados e perdidos: antologia poética (Pág 50)

Ano 2022 Scortecci Editora