MEU DOM DE ESCREVER
Meu dom de escrever acrina a alma,
traz coisas que pouco conhecia,
faz a gente se lembrar que somos gente.
Meu dom de escrever é carrasco, é bastardo, é surrado,
coisa que brota do vazio com cara de quero mais,
permeia meu andarilha suor sem pedir trégua.
Meu dom de escrever cheira pele de bebê,
afugenta minhas rabugices sem dó,
meu legado sem remetente e sem ponto final.
Meu dom de escrever faz pouco dos medos, das engolidas a seco, dos sonos mal sem perdão,
faz troça dos meus mancos recantos, das minhas solitárias sacudidas de Quixote remendado,
mas, mesmo assim, é vigoroso nas ancas, destemido nos engates, intrépido nas porradas que dou de troco pra todo canto.
Meu dom de escrever pouco se curva, pouco se unta de dúvidas, pouco se faz de entrincheirado,
é meio farsante, meio mestre, meio ave de rapina, meio sobra do almoço, meio acorde sinfônico, meio cão fugido, meio câimbra gaga e sombria.
Não consigo viver sem ele mesmo que queira, mesmo que insista tanto em azucrinar meus poros, meus sangues, minha razão de não arredar pé destes confins.
Ele vai viver mais do que eu, mais do que você, mais do que Deus.
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