AS ANÁGUAS DO SUOR

Amar tem várias vértebras, vários chãos, vários gostos.

Amamos com as garras do olhar, e com olhar fugido,

amamos com sangue fervendo, e secos feitos pó.

Amamos com dentes rangendo e com coração aplumado.

Amamos com câimbras alucinadas e com sorrisos desembestados.

Amamos com as contas ruindo e com os sonhos querendo aconchegar.

Amamos com a podridão do adeus e com os ventos aninhados da fé.

Amamos com todas nossas faces, todos nossos desmandos, todas nossas tiranias, todos nossos gingados sem breque.

Amamos nas frestas do medo, nas anáguas do suor, nas falanges imberbes do perdão.

Amamos quando morremos e quando parimos.

Amamos quando enganamos Deus com nossos desafinados poréns.

Amamos com o tempo ainda nublado, com as mamas do destino nos chamando para beber até cair.

Amamos quando nos sentimos pior que tudo e quando a vitória é nossa alma siamesa.

Amamos quando ninguém nos enfurna, ninguém nos vira do avesso, quando ninguém nos faz dormir.

Amamos quando viramos fada, quando destroçamos o pescoço do beija-flor, quando deitamos na grama só pra ver os desenhos das nuvens.

Amamos quando somos heróis, quando somos fuligem, quando esquecemos de tomar banho, quando pisamos num cocô qualquer da rua.

Amamos quando temos vergonha das cores do mar, quando açoitamos as palavras sem dó, quando deixamos o gozo espreguiçar seus guizos.

Amamos quando viramos seres humanos, por mais bizarro que isso possa parecer.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 01/06/2017
Reeditado em 01/06/2017
Código do texto: T6015792
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