Sonhos e purpurinas
Ao brilho de purpurina
A menina traçou sonhos
Seria a donzela do castelo
Para seu medo do dragão
Sua fada madrinha
Prometeu-lhe proteção
A cigana lera seu destino
Numa bola de cristal
Teria um amor genuíno
A lhe proteger do mal
Eternamente um namorado
Sem vícios, nem maldade
Que segurasse sua mão
Na hora da solidão
Abriu a sua janela
Viu um céu estrelado
Voou nas asas da imaginação
No dia do casamento
Sorrisos em sua passagem
Viu-se numa carruagem
Tapete vermelho ao chão
Lá dentro da capela
Seu príncipe encantado
Com um buquê na mão
Passados os bons momentos
Lua de mel e coisa e tal
Realidade e sofrimentos
O dia-a-dia trivial
Entre carnês e pagamentos
Vieram filhos e amantes
Nenhum anel de diamantes
Nas mãos feridas de trabalho
Algo deve estar errado
A vida entrou em algum atalho
Que não estava na história
Jogado num canto do assoalho
Sapatinho de vidro quebrado
Olha triste pra cozinha
Nenhuma abóbora na panela
O príncipe tão sonhado
Era apenas fanfarrão
Passava as noites no baralho
Um simplório beberrão
Sente lágrima escapar
Qual fora o seu pecado
Exceto aquele original?
Sorri vendo a filha brincar
Com a sua purpurina
Senta-se ao lado da menina
Iludindo-se a sonhar
Que ao amanhecer
Tudo possa mudar
E se deixa adormecer...