ALDEIA

ALDEIA

Tenho o Ocaso

Instalado no lugar do meu ventre

E um Caos

No lugar do coração

Enquanto um gato cor de mel

Me lambe as feridas de Maio em flor.

Tenho melros nos pés

E cerejas no revolver dos sentidos

Quando o trigo se agita

Como o pulsar do teu grito

Dentro em mim,

E o Caminho dos exílios se abrisse para nós

Para que as rosas finalmente cessassem o seu pranto…

Sinto escassas todas as pérolas

Em lábios suculentos de romãs.

Tenho o licor dos dias

Nos beirais das portas e o rosto da minha avó sorridente

No entardecer da espera,

Enquanto minha voz a chamava encalhada numa quimera,

E ela…

Ela sempre me respondia.

Sinto seus passos pelo chão do sobrado,

Suas mãos esguias moldando o queijo,

Como quem molda a poesia,

Suas preces pela alvorada.

Sinto silêncio.

Contemplo aquela última casa branca do povoado.

Tenho uma aldeia instalada

No lugar do coração,

É onde os pássaros liberam

Naufrágios da infância

Em meu repousar.

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© Célia Moura – (a publicar) “Terra de Lavra"

VIDEO: https://www.youtube.com/watch?v=sFxwQf4T5ns

Célia Moura
Enviado por Célia Moura em 25/05/2017
Código do texto: T6009136
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