Lobos do Mar
Na praça dos pescadores/
Os sábios declamavam seus feitos/
Parlamentavam políticas/
Lembravam saudosos, celebridades/
De Sadi, Miguel a Salésio, gentis Guaranis do lugar/
Quando me juntei a observar/
Ali na orla e perceber, que os intelectuais não são capazes de vislumbrar/
Que humildes pescadores/
Conhecido no mundo social como analfabetos/
Em sua arte, são verdadeiros Argonautas/
Professores da vida, capazes de amiúde, nos ensinar/
Com planejamentos, que vão desde a organização da rede/
Às minúcias das horas pra embarcar/
Sãos os ritos meus senhores pra se iniciar a pescaria/
Envolto numa coragem peculiar/
Que até pode-se julgar, entre a ignorância ou a necessidade/
Quando defrontada com os perigos do mar/
Aqueles homens pacatos, invadem as sombras, que tomam os nossos olhos/
Desde o desamarram da embarcação/
Que feito cavalo indomável já começa a sua iniciação/
Desembesta em fúria, quando sente o cruzamento das ondas com a brisa/
É um laço daqui, que segura às amaras pra li/
A misturar brados e falas, cigarro de palha, entre os trejeitos e formas/
Que multiplica as forças a alteração da pinga na veia/
Previamente aquecidos, montaria domada/
Seguem altaneiros, devidamente batizados a estrada de espumas/
Rumo ao horizonte mergulhado na barra de saia rendada da lua tímida/
Que os leva selvagens aos braços solitários da canção no pensamento quieto/
Daquele deserto de água salgada/
Compenetrados nos segundos, parecendo esquecer aquele cavalgar endoidecido do barco/
Proseiam contos de botos/
Feitos de outros/
Cantigas de fadas/
A medida que a rainha da Sucata, graça da embarcação/
Corta a maré/
Ínfima musa daqueles senhores/
Parece imiscuir-se humildemente ante a imensidão das ondas raivosas/
Que maltratam as anteparas/
Naquele longínquo misto de paraíso inferno/
Vejo até onde a natureza da idade alcança/
Mas ouço os gritos, gemidos e desesperos/
Decompostos nos versos taciturnos/
Das veias vivas, que a procela enlouquecida teima em ninar/
Anunciando, o de repente do tempo, que muda/
Agora que jorra a chuva no convés/
Sob ventos absurdos, que atiçam a gigantescas ondas/
Que engolem e põem fora a barca/
A estibordo vejo o vulto das almas/
Lá longe correndo de um lado para o outro/
Numa soma de braços/
Pra jogar a rede/
Pra controlar o leme/
Pra unir os brados/
Pra aquecer os medos/
São horas sem tréguas/
Cujo desespero prova os nervos/
Daqueles heróis pescadores/
Subserviente a imensidão da divindade que vem e vai/
Não se sabe pra onde, se curvam/
Se prostam ao desespero de sentir na boca o beijo/
Às vezes fatal da senhora morte/
Até enfim, saírem das mágoas acesas das correntezas das águas crescentes/
Como hábeis vencedores/
Com o riso recomposto nos rostos pela volta a margem/
Aquela viagem já entra pra história/
Mesmo que a pescaria do dia, naquela noite não tenha sido um sucesso/
O conjunto da obra, já é uma alegria/
E nos cabelos estendidos da praia, que se perdem na escuridão/
Quando pisavam e sentem a terra firme, herdeiros de tantos medos/
Agora colonizadores beijam o chão/
Autores de uma façanha, fracionada na labuta do suor e sangue nas mãos/
Fomentam a boemia com a palestras daquela odisséia à luz da fogueira acesa/
Que conforta aquele drama nas almas guerreiras/
Regado a cachaça, Camurim e Bandeirado mosqueado ao fogo de brasa da hora, com a farinha de mandioca/
Sob um solo cativo de uma modinha/
Da viola que não cansa de exaltar/
Quão bravos homens/
Fieis amantes do mar/