L & L

Um canivete,

Uma árvore,

Um amor.

Um L&L marcava o antigo caule na praça,

já não mais tão visitada como antes.

No descansar do almoço,

um homem se pega a imaginar:

- Quem seria L&L?

Quando foi gravado?

Será que ainda estão juntos?

Enfim, mil coisas passaram naquela cabeça que só fazia imaginar.

Se deitou,

esticou as pernas,

e ouviu o estalar típico dos seus ossos ao se espreguiçar.

Os pés ficavam pra fora do banco de madeira, uma pintura recente ainda exalava o odor da tinta.

Após um breve cochilo, ele se levanta e procura algo.

Inquieto ele anda de um lado para o outro.

Por fim, ele se abaixa e pega uma pedra que cabia na palma de sua mão.

Com muita rigidez e uma ponta afiada ele esfrega a pedra na árvore, apagando a marca que não deixava sua imaginação em paz nem por um segundo.

-Oi! Boa tarde!

Um outro homem lhe cumprimentou.

- Oi!

Posso ajudar?

Respondeu e perguntou sem parar de tirar lascas da árvore.

-Meu nome é Lucas!

Eu trabalho aqui vendendo pipoca!

-Ei, não quero pipoca não moço!

Disse o homem com a roupa coberta de lascas da árvore.

Lucas então se aproximou e colocou a mão sobre o desenho que surgia por debaixo da seiva endurecida.

-Não faça isso!

Disse Lucas com os olhos marejados.

-Me desculpe!

Foi o senhor que fez essa gravura?

- Sim!

Respondeu já retirando lentamente a pedra da mão do homem.

Por fim, ele se apresenta.

- Meu nome é Paulo!

Me desculpe se ofendi com minha atitude, eu estava muito incomodado em não saber nada sobre a história desses dois "Ls" e pra eu não ficar....

-Tudo bem Paulo!

Está tudo bem!

Graças a você eu vejo o contorno do coração que cercava as letras,da qual já havia esquecido.

Paulo muito curioso, olha o relógio para saber se dava tempo de tentar descobrir a história daquele homem.

- Faz muito tempo, estávamos apaixonados víamos aqui namorar por que nossa família era contra.

Paulo se senta, e a partir daquele instante não se preocupa com a hora de voltar para o trabalho.

- Vivíamos outros tempos, e o amor que nos unia era o que me fazia viver.

Uma certa vez,eu marquei aqui para lhe dar um presente e sem ter nada para retribuir me fez essa gravura na árvore.

Paulo se sente mal por quase acabar com as lembranças de alguém por puro capricho.

-Me desculpa mesmo senhor Lucas!

Mas você não tem nenhuma foto, carta e essas coisas?

-Não!

Minha casa pegou fogo onde se foi consumido tudo o que eu guardava e a foto que eu guardava na minha carteira fui assaltado e nunca mais a vi.

-Nossa!

Vocês casaram?

Com a curiosidade aguçada Paulo se interessava pela história.

-Não!

Uma tuberculose colocou fim na sua e na minha vida!

Desde então eu vendo pipoca nessa praça só pra fica ao lado da única lembrança que me deixou.

As vezes sento no banco e converso como se qualquer hora fosse me responder.

-Sua história é linda senhor Lucas!

-Obrigado rapaz!

Nunca ninguém se interessou em sabe-la.

- O senhor não teve outra pessoa?

Filhos?

-Até tentei, mas não consegui!

Com as lágrimas caindo dos seus olhos o pipoqueiro se despede do seu mais novo amigo.

-Ate breve Paulo!

Obrigado por me ouvir.

- Atée mais senhor Lucas fique bem!

Senhor Lucas?

Me ficou uma dúvida!

-Qual?

Perguntou já sabendo o que Paulo iria perguntar.

- O senhor não falou o nome da mulher, só sei que começa com a letra "L"!

-LEANDRO!

Disse o velho pipoqueiro com voz firme e com um olhar que não mostrava pudor nem receio de dizer que sua paixão era um homem.