Tudo

Eram apenas

duas vidas

a desproduzir

pensamentos

tortos

sobre seus

universos

perdidos.

Dois corpos

a desencantar

tudo aquilo

que um dia

não ousou

acontecer.

Duas almas

a imaginar

coisas

inacabadas

construídas

por quem nunca

criou

coisa alguma.

Eram dois.

Depois vieram

multidões

de gentes

que nunca

existiram.

Espíritos

ainda vivos

Fantasmas

invisíveis

Duendes

Engrandecidos.

Chegaram unicórnios

Borboletas

Indígenas

Negros

Bichas

Loucos

Maconheiros

Poetas

e ateus.

Não vieram

os engasgados

pelos próprios

preconceitos

advindos

do inferno.

Rolou

uma paz

tão grande

que não coube

nem numa

caixinha

miúda

de apanhar

poesias.

Sobrou

Estômago

Fígado

Pele

Urina

e vida.

De avião

chegaram

mananciais

de estrelas

que logo

subiram

pra baixo

da terra.

Chegaram

debaixo

de ocas

de formigas

que morrem

no inverno.

Se juntaram

pra ajudar

uma senhora

tão senhora

que não

conhecia

álgebra

e nem

física quântica

mas sabia

tudo

de vida.

Ela sabia

tanto

da vida

que morava

na avenida

e da avenida

ela ajudava

mais uns cem.

Todos

os cem

e mais

a senhora

tão senhora

não morriam

de fome

porque deus

não queria.

Não morriam

de frio

e de peste

de crime

e nem de morte

morrida

porque deus

também

não queria.

Porra

Deus

não quer

nada

e nem ninguém?

Esse universo

foi se transformando

pra melhor

tão melhor

que foi acabando

encolhendo

e transbordando.

Foi se enchendo

das águas

que hoje

alugam

o mar.

Todo o céu

ficou cheio

de água

e todo o mar

ficou cheio

de estrelas.

Tudo

tudo

transbordou

Tudo

tudo

nasceu

bem velhinho.

Tudo

morreu

nascendo.

Nada

descansava

nem mesmo

quem nem

se mexia

e nem pensava

e nem amava.

Era tudo

e aquilo

era causado

pela cadeira

maldita

que arrastava

o piso

de sangue

em cima

do meu

apartamento.

Quem arrastava

a cadeira

maldita

era uma elefanta

que me olhava

ao lado

da televisão.

Era

a vibração do aparelho

era o livro

era o porta

retrato

era o lixo

o mendigo

era tudo

nem ninguém

Era tudo

e tudo

acabou

de acabar.