Medo de ser
Nem sempre dá pra ser o que somos,
nem sempre nosso espelho reflete todos nossos cheiros,
aqueles gomos que fazem a alma virar alma.
É o jeito de deixar alguns medos menos estridentes,
pra que fiquem quietinhos no seu canto,
sem ficar toda hora berrando tô aqui, tô aqui!...
Nisso os segundos viram séculos,
nossas fronhas viram trapos.
De tanto que viramos na cama chamando o sono que nunca aparece,
viramos uma interrogação de cabo a rabo.
Não chegaram a nos apresentar pra gente mesmo,
somos multidão de desconhecidos vagando feito zumbi
dentro da gente mesmo.
Vamos nessa ladainha até nossos pés pedirem água,
até encontrarmos o fio da meada do que somos mesmo.
Até descobrirmos nossa própria terra, nosso próprio suor,
nossa própria licença pra voar, só voar.
Aí damos a descarga pro medo de ser ir azucrinar outra freguesia,
ir assombrar quem bem entender no longe mais longe que puder.
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