CURRICULUM VITAE
Matei meu remorso num balde d’água
Cumpri minha regra na nuca do inimigo
Fiz morada em locais mais inóspitos do que a Lua
Servi em exércitos de sombras e nada mais
Sobrevivi a guerras e ainda cultivo a covardia
Clareio meu caminho com velas e não lanternas
Solicito passagem ao caos que habita cada um de nós
Vivi pra mostrar amor a quem já o tinha
Corri até cansar da poesia
Matei tantos ímpetos que os ressuscitei
Chovi no molhado e abusei das metáforas
Caguei regras de bom-gosto até sangrar num pasto imundo
Fui servo mas também pastor
Semeei vitória junto aos errantes
Nadei contra a corrente também
E envelheci de tanto soprar numa bexiga furada...
Colhi flores num charco diminuto e cálido
Vasculhei desertos em busca de uma nota que combinasse com minhas contradições
Amaldiçoei os traços largados pelo artista do bem
Cansei de ser genial pra mim mesmo
Fiz tanto pelos outros quanto pela realeza de Atlântida
Rezei baixo e contudo fui ouvido
E praguejei alto como de hábito.