CURRICULUM VITAE

Matei meu remorso num balde d’água

Cumpri minha regra na nuca do inimigo

Fiz morada em locais mais inóspitos do que a Lua

Servi em exércitos de sombras e nada mais

Sobrevivi a guerras e ainda cultivo a covardia

Clareio meu caminho com velas e não lanternas

Solicito passagem ao caos que habita cada um de nós

Vivi pra mostrar amor a quem já o tinha

Corri até cansar da poesia

Matei tantos ímpetos que os ressuscitei

Chovi no molhado e abusei das metáforas

Caguei regras de bom-gosto até sangrar num pasto imundo

Fui servo mas também pastor

Semeei vitória junto aos errantes

Nadei contra a corrente também

E envelheci de tanto soprar numa bexiga furada...

Colhi flores num charco diminuto e cálido

Vasculhei desertos em busca de uma nota que combinasse com minhas contradições

Amaldiçoei os traços largados pelo artista do bem

Cansei de ser genial pra mim mesmo

Fiz tanto pelos outros quanto pela realeza de Atlântida

Rezei baixo e contudo fui ouvido

E praguejei alto como de hábito.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 10/05/2017
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