Loucura

Nasci de uma louca mulher.

Mãe, que amava-me com toda a loucura.

Gritava que ia morrer. Tinha medo,

não da sua loucura, mas o medo de perde-lá na loucura.

Assim, ia perdendo-me para a loucura.

A loucura da minha mãe, vejo até hoje,

em lampejos pretéritos, nos seus gritos arquetípicos coletivos dos fantasmas da ciência,

mas também nas rosas primaveris que plantava e nos espinhos que colhia.

Nasci de uma louca mãe.

Ouvia assobios na boca da noite, que ninguém ouvia.

Perdia-me pelas trilhas do cotidiano.

Gritava vozes vazias no meu interior.

Beijava os amores perdidos.

E como um doido esbravejava gritos aos cantos contra a maldita academia

do pragmatismo cartesiano da esquizofrenia.

Sou louco?