QUEBRANTO
Eu atino o motivo desse desprezo.
Conheço o âmago de seu pensar.
Por isso sofro tanto e rogo e rezo
aos deuses e até ao meu orixá.
Facilmente não se esquece,
nem quando se quer, um amor veraz.
O que reverbera, e a minha mente aquece
é o medo de perdê-la, de acabar a minha paz.
Só sei que sofro. Como essa desdita suportar?
Penso nisso por horas nessa vida. Todo dia.
Me esquecerás de vez? Ainda vais voltar?
A mágoa ofusca o gostar? Resta só a amizade fria?
Sei que não sirvo a ti e por vezes até atrapalho.
É que gosto muito, ah! Gosto sim de todo modo.
São poucos atrativos, mas não sou eu um espantalho,
tem até quem admire esse Dionisíaco - Quasímodo!
Não me conformo. Iludo-me! São quimeras!
Para não teres outro amor intenso assim
vou praguejar: “Passem séculos, passem eras,
haverás de nunca se esquecer de mim”.