A cavalgada da inspiração
Quando sinto o lascivo impulso criativo
Se aproximando em trotes descoordenados
Apenas o permito vir.
E vem
Correndo desenfreado
Sem laços sem cordas
Sem nós: vem só.
E em si afoga-se e de si devora-te
Todo até a carne
Até que derrame a pele do macilento rosto
E toda a aurea gordura escorre.
E entra com força e vontade
E punje-se de escória
Até ver roído o osso
E não mais existir o pó.
E finalmente emerge na alma.
Vangloria-se de sua auto luminosidade
Que se sustenta a si mesmo
Em banquetes etéreos e demasiados
E profanos e excessivos.
É gula.
E honra-se de ser gula e de comer até nao mais haver o que sempre existe.
Conclama a criação e
Se esbalda de eterna génese até que
Por vontade própria
Toma encosto no eterno divã do vazio.
Quando vem
Não pede
Não se instala sob licença:
Mas obriga ao navegante do corpo que lhe ceda todo o espaço que lhe convém.
E antes mesmo que acene ou
Torne sabido com um aviso ou sinal
Parte e toma outro rumo
Inimaginável
Intragável aos limitados olhos humanos.
Abandona
Deixando um rastro luminoso de
Ânsia e desejo e reprimenda.
Tão somente
Esvai-se.