Cidades Sinápticas

06/05/2017

Fios elétricos das sinapses,

Neurotransmissores rodoviários,

Fios tensos de avenidas com pressão alta,

Fiação que faz circular a esquizofrenia dos fluxos,

Fluxos de veias intermunicipais coaguladas,

Sinapses de territórios com raízes elétricas,

Mentes municipais de pensamento ferroviário

Está vendo?

É o som do metrô,

Da paranoia subterrânea que agencia partículas para jornadas cíclicas,

Jornadas moleculares,

Jornadas de moléculas que compõem corpos vistos por ninguém,

Corpos abstratos de dimensões municipais, globais,

Zumbido do metrô que é signo,

Signo do tempo cortado,

Presságio do futuro que perfura o presente,

Corte que prontifica as moléculas subjetivas,

Moléculas subjetivas projetadas para a mais nova tarefa

Tarefa que agencia os meios dos fins insondáveis de máquinas invisíveis

RrrrrrrR

RrrrrrrrrrrrrrrR

RrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrR

Está ouvindo?

É a luz que ilumina a beleza metálica dos prédios em construção,

Manifestações retangulares de idéias quadradas,

Ressonâncias das primeiras cavernas,

Grandes cavernas metálicas iluminadas,

Brinquedos narcísicos que ofuscam céus miniaturizados,

A grandeza que faz encolher,

Que faz ver com clareza surda áreas microscópicas,

Ao preço de não ver nada além dos muros,

Muros visíveis e invisíveis,

Temporalidades fabricadas,

Ritmos de engrenagens viróticas comandadas por relógios moleculares

Está cheirando?

É o sabor dos ruídos gelados de sinestesias involuntárias,

Fragmentos de Pink Floyd sobrevoam trilhos psicodélicos,

Contraponto barroco dos iPhones e dos motores de ar condicionado,

Sinfonia orquestrada do passo de belos ratos de metrô,

Perfeita sincronia em desfile ordenado,

Em seus canos subterrâneos de elegância enlatada,

Delírios elétricos de ratos inteligentes saudam a chegada da sinapse gigante na estação Paraíso,

É hora de embarcar,

A dopamina é liberada no centro comercial

Distância transcontinental de uma mera apologia agrária,

Proliferação de afetos modernistas e agridoces de uma alegria dialética,

Espectadores anônimos de espetáculos maquínicos,

Vidas destinadas ao esquecimento de eras geológicas,

Fios de intensidade elétrica entre zonas de escuridão indiferenciada,

Desejo secreto da tragédia metálica dos corpos articulados em dentes de engrenagem,

Processo hidráulico das subjetividades de cano,

A metamorfose-tubo do humano,

Mera recepção de fluxos dados,

Em encanamentos de ramificações neuróticas,

Labirintos de fluxos com destinos fantasmas,

Viadutos hidráulicos de nada para lugar nenhum,

Tubulações interditadas com pomposidade como se algo se tivesse perdido,

Sucessão paranóica de imagens publicitárias famintas de olhos à deriva,

Aglomerações revolucionárias de gases atmosféricos,

Solo, subsolo e céu todos um num grande novelo elétrico de retroalimentação,

Criação de mundos em tubulações convergentes,

Destruição de mundos em encanamentos divergentes,

Cercamentos,

Escavações,

Extrações minéricas,

Recursos energéticos,

Circuitos de afetos,

Circulação de identidades,

Circulação de tudo que acredita numa alegria dos fluxos elétricos de circuitos infinitos.

Circule, circule, circule,

Não pare por aí,

O que é este cano que não quer fazer fluir?

O que é este fio que não quer fazer passar todas as eletricidades?

O que é esse neurônio que não aceita qualquer neurotransmissor?

Seleciona os fluxos,

Organiza os encontros,

Como um cano, fio ou neurônio pode pensar em tal disparate?

Apenas o circuito-pai pode fazê-lo,

Apenas o grande corpo abstrato das coletividades maquínicas pode agenciar as moléculas,

Moléculas sujetivas que se desprendem do corpo molar complexo,

Não sabem que vão morrer lá fora?

Não há vida fora das engrenagens e das rodas industriais,

Como podem pensar que há um fora,

Ou pior,

Que há um fora dentro deste dentro,

Uma outra maquinaria possível,

Uma outra montagem,

Um outro encontro,

Uma outra eletricidade,

Uma outra fiação,

Isto não é possível,

Não é?

Não é?

Foi-se embora na sinapse gigante antes da reação das outras moléculas subjetivas,

As suas já estavam atraídas pelo labirinto da fiação,

Mas até estas moléculas aparelhadas sabem que,

Secretamente,

Transversalmente,

Geologicamente,

In the long run...

A máquina erra,

A máquina erra e seu erro é a ocasião para que o mundo vire de cabeça pra baixo,

Sem cabeça, nem baixo,

Porque as referências serão outras,

As fiações farão outros labirintos,

As sinapses conectarão diferentes neurônios,

Os canos farão fluir outros líquidos,

E toda a maquinaria marchará para outro agenciamento...

A máquina erra,

Já o dissemos,

A MÁQUINA ERRA,

O seu erro é o acerto ocasional de outros fluxos,

Acerto acidental, pouco premeditado, ponto fora da curva,

Desvio estatístico,

Indeterminação infinitesimal,

Força que transborda por acumulação,

Fluxo que desarticula por insistência,

Ferrugem nas engrenagens,

Falha elétrica nos circuitos,

Bloqueio acidental dos tubos,

A persistência geológica dos canos, fios e neurônios que,

Por um não sei o quê,

Insistem numa nova maquinaria porvir

Konatus
Enviado por Konatus em 08/05/2017
Código do texto: T5993187
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