INGNÁVIA

Vocês que já viram tanto!

Esperem até verem, aquele menino que eu vi...

De alpargatas, vestes rasgadas, todo sujo,

tomar banho... Até queria

mas... Nunca encontrava água,

alem, do chafariz.

Um dia aquela mulher, toda saia,

rodada em seus sentimentos

passou pelo reduto, d'aquele menino

o medo expelia n'aquele breve momento...

A fome, esticou a mão do pedinte...

'Dai-me um pão, apenas um pão'

para que eu possa, burla a minha fome

que da forma que me vem...

Muito breve ela me atalha,

e eu assim... nunca! Nunca conseguirei,

chegar a ser homem.

A mulher, por ser pedida

e com medo todo d'aquela vida

tremia n'aquela avenida...

O menino por sentir-se frágil

e com a fome em espantalho

tremia em seu medo 'no medo

de nunca conseguir ser grande.

O medo ali, espalhava-se...

Nos olhares,

nos passos sob a multidão

na aglomerações dos ônibus

e no, estiramento das mãos.

Tudo era medo n'aquela cidade

até mesmo a vaidade...

Sorria com medo de um dia,

minguar, e ficar mesquinha.

O medo, estampava-se...

Nos sentimentos das autoridades

nos amores dos namorados

nas intensidades dos telhados

e pelas ruas dos bairros alagados.

Pela noite de blecaute, medo

... Medo pelas sombras das calçadas

pelas portas abertas das casas

e pelos contos falsos das fadas.

Era medo em cada esquina

em cada quina em cada rima

nas ordens dadas de cima

e medo por ser, menina.

O medo cresceu ficou bruto

passeava pelos viadutos

pelas pontes e pelas placas

e pelas caixas de papelão.

O medo ficou de ressaca

se deitou na classe alta

e foi tremer o coração.

Antes o medo era pobre

aumentou como se fosse preço

e tomou conta da nação.

Agora todos estão com medo...

O mundo, não tem mais segredo

e o povo, não é mais irmão.

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 04/05/2017
Reeditado em 05/05/2017
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