VENDER A ALMA

Pra sobreviver mais um capítulo

Sem se vender ao mercado

Deverá ser muito criativo

Ou apenas usar o que já foi publicado

Mas não basta apenas copiar

Um retoque de mão sobre a tela

Um conjunto de idéias de origem

Fazem você ser um novo monge

E assim ver e chegar muito longe

Ou vai ter que vender a sua alma

Pros senhores das terras de longe

Onde o frio queima, esfola

A escolha será só tua, sem escola

Não serás pressionado a tomar partido

Vai seguir feliz pelas trilhas abertas

Os sustos e sobressaltos

São por conta do desconhecido

Não será incomodado ou barrado

Vai entrar no baile da ilha fiscal

Vai receber a condecoração real

E no encerramento das atividades

Serás reconhecido com um dos tais

Daqueles vencedores, especiais

Vai encerrar a carreira com compensas

Que serão suas recompensas

Não vai passar mal

Agora no fim da vida pura

Não terás chances de se vender

O teu produto já está com a data de validade

Na verdade é apenas a sua idade

Já não é filé, está mais pra carne dura

Não serve pra ceia de natal

Sem chance de ser saboreado

Apenas mastigado em sopa rapadura

Devias ter vendido a tua alma

Enquanto ela tinha bom preço

Agora nem adianta perder a calma

Vai ter as tripas viradas no avesso

Considere-se assim um felizardo

Se no teu enterro levarem contigo

Além do seu corpo, seu fardo.

Vendeu, vendeu, tinha comprador.

Agora é apenas um aposentado

Com alma e sem fiador

Ético, mas sem cartão de crédito

A cabeça vai de leve ao travesseiro

A conta fica atrasada lá no padeiro.

Segue a vida feliz e tem no bolso

Moedas como forma de dinheiro.

Os filhos já não pedem mais nada

Cansados de só ouvir: não

Foram vender a alma pro primeiro.