Embora triste, dançarei

Embora triste, dançarei.

Dançarei descalço

sobre a tão seca grama,

para que reverdeçam

esses campos

e meu âmago.

Dançarei embevecido,

melodioso,

sobre brasas e pavimentos,

sobre formações rochosas,

marquises e viadutos...

Dançarei solto, despido de amarras,

em terras de ninguém;

Dançarei sobre o mar revolto,

zonas de rebentação e na toca dos lobos...

Dançarei delirante, extasiado -

um pouco destoante também.

Eu, com o rubro em meus pés,

dançarei, deveras

rodeado de quimeras...

Dançarei

sobre sepulturas, ilhéus,

e as minhas próprias feras;

Dançarei sobre as rachaduras,

os escombros e ossos

de todas as minhas mortes...

Apesar de todas as cicatrizes,

deslizes e cortes,

com espírito ainda jovem

e assim, relutante, dançarei.

Dançarei em busca de paz,

sobre campos

e mundos afora...

Dançarei até não poder mais,

até que todo o caos vá embora.

Embora triste, dançarei...