IMPERTINENTE
Mesa posta,
o assado, do domingo, bem temperado,
O melhor vinho,
Capricho nas taças
E pratos de fina porcelana.
A avó atreve-se,
Em meio à felicidade dominical,
A contar uma história que julgara interessante.
Nos poucos segundos de sua história,
A lâmina da foice cortou,
Ceifou sua impertinente língua.
Sangrou-lhe o coração,
Mas não podia chorar.
Afinal, lágrimas são coisas de gente velha,
Os modernos não choram.
Engoliu o choro, amargo
Com alguns pedaços do assado,
Embolados e empurrados por uns goles do melhor vinho.
Afinal, era domingo.