POEMA DE UMA NOITE.
E nasce a moça lua,
lanterna una no imenso
teto da terra,
o céu derrama sob seu
terno véu borrifos de
ouro em constelações,
tudo se abraça
em veias e artérias
num fraterno encontro,
os rios se exibem
dentre profanas margens,
ondeiam no leito as
inconsciências,
o poeta esta mudo ,
o que se ouve são apenas
os paradigmas que se
escondem na alma.
o poeta se faz como as sementes
procurando o chão,
mas que chão, se a sua frente
estagna a suprema grandeza
do nada,
então, ele respira páginas
em branco para caber o
imenso vazio de sua insignificância,
flores se alastram nos jardins,
pássaros tecem a imaginação,
uma arvore centenária
que se tornou mesa e bancos
passa na janela oculta do teu
imaginário,
vida, rio passageiro,
tétrica abstração da alma,
longe daqui, a lua está,
moça efervescente,
a jorrar hormônios nas
vias universais,
o poeta perde seu olhar,
nubla-se o ser,
recai sobre os cristais
das taças esse objeto que
chamamos inspiração,
o poeta então agoniado,
se retira, vai a janela pegar
o ar que por oras lhe falta,
debruça na fria soleira
neste instante em que a noite
agoniza,
lá fora o mundo promiscuo
se exala,
dois débeis se fundem em
plena madrugada,
encomendam o próximo
sofredor,
não , não , o poeta morre
neste exato momento,
neste ato fortuito, se for poeta,
morrerá,
o poeta cerra a janela,
recua para seu interior,
vai a cozinha derrama
na taça o vinho,
ele não aguenta as tormentas,
se embebeda no ócio da noite,
o poema lhe espera na página,
o poema não pode ficar pelo
meio,
ele exige seu epilogo,
o poeta então rasta cadeira,
e começa a digitar,
a lua, moça promiscua
reflete na sua janela,
lá fora um grilo solitário
pipila,
ele quebra o gelo do
momento,
o poeta digita as ultimas palavras
que compõem o poema,
a lua se escondem sob nuvens,
o poeta foi gradativamente secando,
morreu a inspiração,
o poeta dorme, enquanto o dia
começa a nascer.