VENTO ANDEJO

O vento que por aqui passa..

Venta a venta de todas ventas

venta e sibila na praça...

Venta o cambaleio do ébrio

e o cheiro da cachaça.

O vento que por aqui passa...

Venta flores do jardim

venta a menta do antídoto

as lagoas dos anfíbios

e os dentes da jumenta.

Venta para o lado do sul...

O vento vindo do norte

venta os passos dos fracos

o meridiano do agreste

e a esperança do forte.

Venta a moça na janela

e a serenata lá no chão

venta o desespero do adeus

a costela do primeiro Adão

e as lagrimas das criaturas.

O vento que por aqui passa...

Venta o cisco no meu chão

venta, com vento da saudade

as vezes espanta a verdade

e o pulsar do coração.

O vento ventou a chuva

e molhou sem dizer não

ventou semente germinando

menino na biqueira banhando

na cumeeira do sertão.

Ventou o pasto do gado

no curral e lá no cercado

ventou o leite da vaca

o plantar com a matraca

p'ra criar o seu criado.

Ventou a marcha do cavalo

em ploc, ploc no caminho

ventou a densa solidão

o escuro do Lampião

quando ele estava sozinho.

Ventou a linda rima

do poema com calor

a prosa o vento ventou

a areia no deserto soprou

junto as estrofes do amor.

O vento que por aqui passa...

ventou nuvens e os escarpados

ventou o rumo do caminho

as letras dos pergaminhos

e os passos lá do passado.

O vento que por aqui passa

já ventou na cor escura

no mourão e nas correntes

nas chibatas das serpentes

e nos pulsos da escuridão.

Vento andejo, vento andejo

vento andejo sim senhor!

Já ventou n'aquele carvalho

inventando todo entalho

para a cruz do redentor.

O vento que por aqui passa

já ventou tudo sim senhor...

Ventou o inicio do mundo

as pedras das manjedoura

e o choro do criador.

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 27/04/2017
Reeditado em 27/04/2017
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