Contratempo
Os olhos de uma remanescência soturna,
A inexistência de vida,
O silêncio,
As rugas de milhares de anos
E a passagem desse tempo,
Inóspito.
Três vezes, te toco o rosto,
Os fungos da minha pele fundem-se,
Ternamente, à crosta dos olhos teus.
E mais um ano trespassa?
A música em contraponto,
Em ode minimalista!
O som,
Que vai de um Pólo do cérebro ao seu oposto,
E que se converge no final do compasso.
Ouve esta melodia!
Este “Larghissimo”,
Muito, muito, muito lento…
E outro ano foge pela janela entreaberta.
Será isto amor?
Senão, então o que será?
Pode mesmo ser medo,
De ver o final deste filme só.
O meu olhar deixa o teu,
Viaja de encontro ao teu da fotografia,
Aquela da estante que tanto olhavas
E tanto te perdeste por anos a fio.
Estás feliz na fotografia?
Não aparentas…
Mas eu abraço-te nela!
Será de mim?
Será da essência do meu perfume?
Será a escuridão do meu olhar?
Será da assimetria da minha beleza?
Ou a assimetria das minhas palavras?
Isto rói-me por dentro, sabias?