SOCIEDADE DE CONSUMO

Eu tinha de ser mais forte;

Eu era muito pobre.

Tive pechas desprezíveis;

Eu me calava por vergonha.

Os recalques me consumiam;

Minha vida era um descarte.

A régua niveladora

Sobre mim se alinhava.

Rés do chão

Um verme me roía.

Tive ideias suicidas;

A morte não me veio.

Eu era pobre, muito pobre,

Os ricos eram muito ricos.

Havia um vazio enorme

Onde eles me afundavam.

Um lodo podre mal cheirava;

Fui jogado dentro dele.

Eles tinham nobreza

E eu mal tinha nome.

Eu sentia fome

E eles tinham desperdícios.

Enquanto riam

Minha garganta gemia.

Meu banquete era um pão;

Eles comiam cervos, raridades...

Eles tinham de convencer

E eu precisava comer.

Eu necessitava vencer;

Eles venciam sem necessitar.

Eles arrotavam dignidades;

Hoje vomitam podridões.

Eu era pobre, muito pobre;

Comia pirão com cheiro.

Eles sofrem de azia;

Do ardume pela ira.

Eu sou pobre, ainda sou;

Eu não sofro de azia:

Com o pão de cada dia.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 25/04/2017
Código do texto: T5980956
Classificação de conteúdo: seguro