SOCIEDADE DE CONSUMO
Eu tinha de ser mais forte;
Eu era muito pobre.
Tive pechas desprezíveis;
Eu me calava por vergonha.
Os recalques me consumiam;
Minha vida era um descarte.
A régua niveladora
Sobre mim se alinhava.
Rés do chão
Um verme me roía.
Tive ideias suicidas;
A morte não me veio.
Eu era pobre, muito pobre,
Os ricos eram muito ricos.
Havia um vazio enorme
Onde eles me afundavam.
Um lodo podre mal cheirava;
Fui jogado dentro dele.
Eles tinham nobreza
E eu mal tinha nome.
Eu sentia fome
E eles tinham desperdícios.
Enquanto riam
Minha garganta gemia.
Meu banquete era um pão;
Eles comiam cervos, raridades...
Eles tinham de convencer
E eu precisava comer.
Eu necessitava vencer;
Eles venciam sem necessitar.
Eles arrotavam dignidades;
Hoje vomitam podridões.
Eu era pobre, muito pobre;
Comia pirão com cheiro.
Eles sofrem de azia;
Do ardume pela ira.
Eu sou pobre, ainda sou;
Eu não sofro de azia:
Com o pão de cada dia.