Verdades
Comida pra mim tem que ter mãe. Nascer da gente, do sal da gente, do amor da gente, do preparo com que a vida se diz, em nós, memória e invenção; raízes.
Foi assim que minha mãe plantou em mim processos de transformação. O alimento era vertido, de cru a cozido, de marinado a fervido, sempre em deslocante profusão de sentidos.
Modo de ser assim, nasceu a banana assada em vestígio de manteiga, coberta a queijo e canela, com o necessário poder do fogo, pra que a casa inteira o sinta; perfume de espera.
Ela, minha Vera, minha mãe me ensinou a esperar. Verter. Transmutar e cozer. Cortar para sentir. Tocar para ver. Rasgar em desalinho. Banhar em imersão. Repousar e assistir o alimento crescer.
Só depois, vem a fruição. Comer é um ritual. Como amar. O saber e o sabor não se dão sem o tempo. O prazer vem dessa mistura de língua e cheiro que diz, na boca, sem qualquer palavra, a verdade de cada ser.