Sou água
Estou onde a palavra não alcança
Sou o que não é dito
O que não se lê
Vivo nas entrelinhas, naquelas que poucos enxergam
Nada me descreve, nem prescreve
Estou onde ninguém pensa
Acima do bem e do mal teus olhos não me acham
Sou a nota que destoa
O disco que ralou
A música nunca cantada
O peso que você carrega
Sou o que você tenta apagar e não consegue
Sem tino giro por aí
Com o destino me encontro e o faço
Sou a água que não mata a sede
A rebelião dos insensatos
Uma errante que se perde na bruma dos tempos
Que renasce na brisa da manhã
Da manhã que suas palavras são ditas
E conseguem agora me acompanhar
Cheio de receios você me decifra, consegue ler-me enfim
Já consegue cantar minha música
Juntar todas as notas
E por fim me carregar levemente
Para beber- me feito doce vinho
Já não vivo por aí
Vivo para ti,
Para feito água insensata e ousada escorrer em ti.