Fotografia © Ana Ferreira

Schubert Serenade - Lang lang



 
 
NAUFRÁGIO

aqui onde se eleva o promontório da saudade, oceano, 

vento agitado carregando cios, alma minha sem idade... 

aqui miradouro de esperança, onde pelo mar adentro
e descalça regresso ao silêncio de todas as horas...

aqui se perde meu olhar na ausência do abraço que não volta
sinto o frio que me corta o corpo por dentro dos ossos...


sei bem a cor do sangue que me circula nas veias
sei do azul de cada golpe desferido que me desagua na carne...

eram de frágil ternura os dias prometidos que me vestiam
e pelas minhas mãos me preparo agora para dizer adeus...


e sou eu, apenas eu, que do outro lado do espelho
já me vejo só e apenas uma sombra de mim

por não poder jamais tocar com as asas
um, apenas um... um limite azul que não seja mar 


por isso me fere de morte o mar sumindo na vazante
prefiro a maré-cheia a desfazer-se em explosão de espuma...

é no frio da noite que desagua o silêncio de todas as horas 
e estas aves ao crepúsculo só podem significar

______________________naufrágio...
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Ana Flor do Lácio

 

 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 18/04/2017
Reeditado em 19/04/2017
Código do texto: T5974735
Classificação de conteúdo: seguro
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