Abalo sísmico
Preciso esquecer isso tudo.
O quê?
Isso tudo, a inércia antes do choque,
depois o choque e a cólera,
as frestas se tornando buracos,
buracos se tornando crateras,
eras venenosas nos jardins da alma.
Preciso esquecer isso tudo.
O ruído de ossos partidos,
o último suspiro do último condenado,
a dor,
o ardor das lembranças que sangram.
Preciso deixar para lá,
o abalo sísmico
que fez a ponta do Iceberg
desabar e transbordar
o mar de desilusões.
Preciso esquecer tudo isso,
quem era, sou e seria,
esquecer minha etnia,
família, teorias.
Preciso deixar para lá,
a picada do mosquito,
o gemido preso na garganta,
o sangue drenado da ferida,
a vida.