Longa jornada
Ando ao léu sozinho por essa estrada
Em suas beiradas há belas flores
E os ventos espalham seus odores
E me guiam para uma desconhecida jornada
E eu nasço e morro a cada novo dia
A aurora é a infância, crepúsculo a velhice
E de noite a alma descansa na planície
Para ter forças em continuar por onde ia.
E a jornada é longa e o mundo é sereno
E penso, por um segundo, que é possível,
Mas o mundo, antes sereno, se mostra impassível
E o chão muda, e é cheio de buracos o terreno
Sou criação de antigos deuses, sou antigo
Sou feito para o efêmero, sou alma mortal,
Mas o tempo dura e se estica, quase imortal,
A angústia surge, pois sinto nisso meu castigo.
E a estrada se alonga, e eu me calo
Sento, encolho, busco motivos para seguir,
Sinto o medo em mim pulsar, quase me definir,
E do fundo crio motivos para superar o abalo.
Mas a vida é assim, sempre para todos foi
Uma busca de motivo, um fraquejar constante,
Onde deixamos que tudo se perca, em instantes,
Sem perceber que nossa covardia que nos destrói;