CHAMADO CHAMUSCADO
Bem na hora da partida,
um assovio, Fiu! Passou o rio...
Apito estridente, me chama, e agora!
Nessa hora! Bem na hora da despedida!
Logo agora que eu vou embora...
Eita grosa, eita estorva!
Não poderia ser outra hora?!
Estou aqui, enrolado n'um tema...
Quase, quase passando a trena
é um poema, com dilema e diadema
com estrofes cheios de cores
não tem Maria, e nem tem graça
mas tem lindas frases de amores.
Esse poema esta zanzando,
como quem bebe cachaça
fala da praça, fala da rua e calçada
dos passos cambaleando na fumaça
gente que vem, gente que passa
fala da faixa e dos semáforos,
piscando com suas celestes
cheias de cores!
De todos povos com seus bafos
de todas as fomes com seus garfos
cita o gato no telhado com miados.
Cita as sombras dos horrores,
e os impostos dos senhores,
com seus labores com seus penhores
com suas lamurias e suas dores.
Agora?! Não, não posso ir...
Não vê que eu estou aqui
com um poema a evoluir...
Como que se fosse a vida
que sem poema é ferida
e com ferida agonia em frenesi.
Pela noite sem folia
sem planos pra vida vadia
vai morrendo em fantasia
a cada passo e a cada dia.
Antonio Montes