sinuelos

Sinuelos

Do livro Sóis dos dias

Editora Clube de Autores

Os sinos

De Edgar Allan Poe.

Os sinos

De Pablo Neruda.

Os sinos milenares

Das igrejas…

Quanto falam à vida

Do dia a dia nosso?

Os sinos sinuelos

Tocando bois ...

Nós, os bois, tocados

A sinos pelos dias

Entre vilanias

E cerzimentos

Em choros convulsos

E em plena alegria…

Desses mementos.

Tomo 2

Os sinos!

- Ah, os sinos!

Das pequenas

Peças de prata!

cuja melodia flutua

De suas gargantas

Aos pesados

sinos de ferro

De suas gargantas

Profundas

De melancolia!

sinos de pedra

Das ilhas do Pacífico,

Sinos de pedra sabão

De Minas Gerais…

Sinos com passado.

Tomo 3

O que lembra sinos?

A pedra jogada no poço,

Que ao fundo reverbera

Em suas águas a voz sinuosa?

O que lembra sinos?

A mão segura ao pescoço,

Batendo em concha,

Fechadas ao alvoroço?

O que lembra sinos?

Senão os próprios sinos

No silêncio da sala de cinema

Num aconchego,

Na chegada de mantimento?

Da guarda nacional?

O que lembra sinos?

O toque das horas

No cuco na parede…

Tomo 4

Sinos anunciando vida.

Sinos anunciando morte.

Sinos anunciando o batismo

Do menos forte…

O casamento dessa tarde,

A missa das seis horas,

A de ramos, a de aparte…

O encanto do sinoar

A beleza do som

Rasgando o ar de outono,

Os sinos esperando o mar

Nas encostas, abaixo

dessas torres sineiras,

Festejando a colheita

A derradeira seiva

Antes dos ventos fortes

Que lhe vão calar.

Tomo 5

Os sinos de António Nobre,

De Fernando Pessoa,

De Vinicius de Moraes…

Sinos de tantos outros

Que os ouviram sem suas

Alucinações poéticas…

O chamado à intervenção

Do verso no verso da lei…

A corda puxando badalos

A anunciar condenações,

Aberração dos males…

Sinos de faróis frente

À previsão do baque…

Sinos a zunir ouvidos

Culpados e inocentes…

Basta sinuelo de chamar

Bois e homens à trela.

Tomo 6

De volta dessa missa austera,

De sinos não perdoadores…

Que século condenou à treva

As trevas de seus lavores?

“Quando eu morrer não chores

por mim mais que triste sino a dobrar

Dizendo ao mundo que eu fugi.

E nem relembres estes versos,

Nem tentes relembrar como me chamo:

Que fique o amor, como

A vida, acabado para que o sábio,

olhando a tua dor,

Do amor não ria, depois que eu me for”.

William Shakespeare

A paz que, enfim, teria,

fossem sinos essas conversas.

Fossem sinos a badalar

o fim, em festa.

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sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 13/04/2017
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