FIO DA NAVALHA
Esse frio na espinha
Andar no fio da navalha
Alguém assopra e espalha
O seu prato de farinha
Nas margens da estrada
Há uma grande muralha
Parece não ser nada
Mas divide uma batalha
Se for um pouco curioso
Espie por uma brecha
Dentro arsenal poderoso
Você de arco e flecha
Esse frio na espinha
Andar no fio da navalha
Por qualquer coisa que valha
Criam uma picuinha
Cuidado no caminho
Pra não dar vexame
Pise bem de mansinho
Traíra tem de enxame
Apontam tanto dedo
Em Moderna Inquisição
Fazem-nos borrar de medo
De joelhos prostram ao chão
Esse frio na espinha
Vida no fio da navalha
Remexem sua tralha
Rasgam até sua fezinha
Reviram sua sacola
Jogam fora a marmita
Te suspendem pela gola
E chamam de parasita
Esse frio na espinha
Vida no fio da navalha
Vontade de jogar a toalha
Galo vencido na rinha
Agradecer e ficar quietinhos
Andar sem olhar pros lados
Fingir sermos macaquinhos
Cegos, surdos e calados
Esse frio na espinha
Vida no fio da navalha
Pode preparar a mortalha
Ir pro céu, ser estrelinha
Quase tudo é proibido
No fim do túnel só o escuro
Quem mandou não ter nascido
Do outro lado do muro
Esse frio na espinha
Vida no fio da navalha