A HORA DOS MORTOS

Era assombração.

O corpo de Estela flutuava

como uma lua rebelde

sobre as nossas casas.

Fechávamos cedo as janelas.

Medo de quem já se foi

era o que sentíamos.

No entanto, nossos ouvidos

jamais escutaram

um só vagido que seja

da boca de Estela.

Mas tínhamos medo.

Medo do que rejeitamos.

Medo do que negamos.

Estela morreu em nossas ruas,

diante de nossas casas,

sob os nossos olhares omissos.

Morreu lentamente,

pedaço a pedaço.

E, por isso, tem ela o direito

de nos assombrar,

tornando as noites mais longas,

atormentando o sono

que teimamos em querer ter.

E quando chegar

o dia do perdão,

o que receberemos

da boca de Estela?

Bênção?

Maldição?

Ou o merecido silêncio?

Deodato
Enviado por Deodato em 07/08/2007
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