"Sim, eu não te amo porque quero.
Ah, se eu pudesse esqueceria.
Vivo, e vivo só porque te espero.
Ai, esta amargura, esta agonia."
(Dolores Duran)
A VOLTA
Alvoroço-me como se fosses voltar,
Bater à porta, dizer olá!
Limpo o coração das cicatrizes e mágoas,
Ensaio os braços em coroa,
Preparo os lábios, ávidos,
La Vie en Rose tocando,
Coloco as taças antigas, que gostavas, à mesa,
Com tempero e com afeto
Faço teu assado predileto,
Troco o vidro do porta-retrato,
Apago as nódoas do tempo,
Junto cravos e rosas num vaso,
Coloco o vestido de baile,
Feito em puríssimo azul.
Retoco o pó de arroz,
Brilho evidente demais no rosto.
Debruço-me à janela,
Coração aos saltos,
Aguardando teus passos.
É chegada a hora do encontro, do nosso update!
Fim de março,
Ao lusco-fusco,
Luzes néon em meu olhar.
Abro o Lambrusco branco.
Ponteiros se juntam sobre a hora.
Noite já fechada.
Velas vermelhas derretidas.
O coração aflito cutucando o silêncio.
Olhos vazios.
Um pio triste ao longe se pressente.
Não vens.
Nunca mais virás.
Tomaste a rua errada,
Perdeste meu endereço,
Paraste num outro lar.
*
(Minha 500ª publicação no Recanto das Letras!)
imagem: google