"Sim, eu não te amo porque quero. 
 Ah, se eu pudesse esqueceria. 
 Vivo, e vivo só porque te espero. 
 Ai, esta amargura, esta agonia."
(Dolores Duran)


 


A VOLTA


Alvoroço-me como se fosses voltar,
Bater à porta, dizer olá!

Limpo o coração das cicatrizes e mágoas,
Ensaio os braços em coroa,
Preparo os lábios, ávidos,

La Vie en Rose tocando,
Coloco as taças antigas, que gostavas, à mesa,

Com tempero e com afeto
Faço teu assado predileto,

Troco o vidro do porta-retrato,

Apago as nódoas do tempo,

Junto cravos e rosas num vaso,

Coloco o vestido de baile,
Feito em puríssimo azul.

Retoco o pó de arroz,
Brilho evidente demais no rosto.

Debruço-me à janela,
Coração aos saltos,
Aguardando teus passos.

É chegada a hora do encontro, do nosso update!
Fim de março,
Ao lusco-fusco,
Luzes néon em meu olhar.
Abro o Lambrusco branco.

Ponteiros se juntam sobre a hora.
Noite já fechada.
Velas vermelhas derretidas.
O coração aflito cutucando o silêncio.
Olhos vazios.
Um pio triste ao longe se pressente.

Não vens.
Nunca mais virás.
Tomaste a rua errada,
Perdeste meu endereço,
Paraste num outro lar.



*
(Minha  500ª  publicação no Recanto das Letras!)


imagem: google

 

 
 

 

 

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 07/08/2007
Reeditado em 21/02/2015
Código do texto: T596602
Classificação de conteúdo: seguro
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