Contrastes
Sol de rachar em parte
Noutra chuva faz chorar
O Céu fazendo arte
Com tanta variação
As aves de arribação
Nem sabem onde pousar
Tanta seca lá pra cima
Cá embaixo inundação
Posso acertar a rima
Mas perdi a plantação
Quem foi que mexeu no clima?
Fez toda essa confusão
Que nosso Velho Chico
Não vire só lembrança
Outrora era tão rico
Incansável a brotar
Transbordava esperança
Já começa a minguar
Essa vida de “sofridão”
Não é por falta de oração
No nordeste em Juazeiro
Reza a Padim Romão
O sulista medianeiro
Faz romaria e procissão
Não pode ser pecado
Pagar tanta penitência
Deve ter algo errado
Pra haver esse sofrer
A gente tem resistência
Mas vem vontade de morrer
De que vale a ciência
O estudo e sabedoria
Dos homens do poder?
É preciso com urgência
Encontrar uma solução
Pobre ter todo dia a dia
Prato cheio pra comer
Nenhum vazio no coração
Se a seca é tanta que já
De fome morre o carcará
As enchentes levam tudo
Castigo de Xangô ou yemanjá?
Põe-se a culpa no Chifrudo
Mas, seja qual for a fé do piá
Do bixim ou do sarará
Não fique ninguém ao deus-dará
E se algum bem nascido doutor
Disser que deus quem quis assim
Com um abraço tentar lhe consolar
Responda sem pestanejar:
Acredita em destino, senhor?
Então, faça-me a gentileza
Fique com a minha pobreza
Passe sua riqueza pra mim