EU SOU DAS LETRAS...
Eu sou aquela voz rouca que sai no choro das carpideiras. Eu sou a reza que nasce da boca das rezadeiras que sobem o morro com a lata d’água na cabeça. Eu sou o Senhor lá de cima entendendo a razão daquele sacrifício. Eu sou a fé; não a que move a montanha, mas aquela que impulsiona os fiéis a subir o monte e orarem fervorosamente a Deus!
Eu sou aquela gaitinha desafinada que chora na boca daquele pedinte. Eu sou aquele colo encardido que a mãe aconchega o bebê. Eu sou aquele rio doce que o homem virou as costas. Eu sou aquele sargento que ninguém mais respeita, eu sou aquela cacimba de águas barrentas e milagrosas. Eu sou aquele sem nome que sabe de tudo e cala!
Eu sou aquele sertanejo que ora para a morena escrever, mesmo não sabendo ler. Eu sou tambor de umbanda batucando África naquele terreiro. Eu sou aquele vaqueiro que não toca mais boiada. Eu sou aquele rancho de comitiva e meus bois são as estrelas desse céu. Eu sou essa força viva dessas pessoas da roça, eu sou a horta verde de folhas e vida!
Eu sou aqueles meninos e meninas do Norte mastigando a esperança naquelas bocas famintas. Eu sou aquele velho de mudez sombria que nem sabe mais porque ainda vive. Eu sou o homem que colhe naquele pomar misterioso que ainda há o de colher. Eu sou o homem do campo que aprendeu com os anos, e que ensina mais que os livros que nunca leu!
Eu sou aquele que não entende porque tantos de terno e gravata se não sanam os problemas. Eu sou aquele que ouve mais do que fala, aquele que observa e sabe que não sabe da metade. Eu sou aquele que me dou por satisfeito se na noite houver luar. Deve ser por isso que não me levam a sério como deviam. Eu sou das letras, eu não sou do combate!