Como um globo luzente
04/04/2017
Pra mim ilusão é um globo luzente
Um quente reduto no meio do nada
Ali colocada, em lúgubre leito
Cravado no peito a golpe de adaga
Luz ténue e vaga em vazio abissal...
De súbito aumenta, dobra de tamanho
Nutrida da força que do nada emana
Do escuro que enche o negro vazio
Mais peso, mais vida, e muito mais cor
Se torna fagulha e ganha mais brilho
Ponto de fulgor no espaço profundo
Se enche de sonho, desejo e esperança
Levando o incauto, o tolo, inocente
A ter confiança que a luz, algum dia
Em elaborada e tosca magia
Se torne futuro, passado e presente
Em mecanismo tão louco e perverso
Convida o já cego a ficar imerso
No doce prazer da total ilusão
E neste momento de profundo alento
Se veste de negro e mostra o anverso
Explode com força, no peito carente
Privado, de novo, da esperança latente
Do desejo esquecido, do sonho demente
E daquela luz, franca, forte e singela
Não resta vestígio
Não resta mais nada
Exceto sua face disforme e sombria
Da breve alegria, o horrível reverso.