CANÇÃO DE VENTO
Nas horas tristes, vejo o sorriso da dor
a me pedir calma e silêncio.
Tudo passa, e tudo corre como o rio
sem pressa por entre as pedras.
E as saudades cachoeiram...
E as solidões me navegam...
E sou barco à deriva do destino
seguindo na curva do vento.
E sopro um lamento que se esvai
e ecoa aqui dentro feito canto de sereia...
Numa noite qualquer, eu vejo o olho da estrela
a piscar madrugada afora. E depois,
no primeiro raio de sol, lacrimejam
os cristais do orvalho da espera
de um novo dia a prometer espantos.
Mesmo quando não houver mais chance,
quando tudo parecer perdido, ainda assim
farei a aposta na mesa da vida,
nesse jogo de cartas marcadas.
A vida pede coragem e alegria,
mesmo no escuro, mesmo no vazio,
mesmo na ausência de tudo aquilo
que nunca nos chega e que jamais se alcança.
Tenho por mim que o destino é uma teia
urdida por tecelões invisíveis que brincam
de esconde-esconde com os sentimentos alheios.
Em silêncio me recolho para dentro do poema,
onde encontro a chama de brilho infinito
que me faz seguir adiante.
Debulho as palavras, uma a uma, e vejo
que são sementes que planto
feito canções que deito ao vento.
Viver é um mistério quase indecifrável.
Apenas quase. Pois no mistério do sopro da vida,
tristezas são o meu alento, a contraparte
das alegrias que reinvento.