Ensaio contra o Sol
Quem é que olha
pelos meus olhos?
Quem é que mastiga
com minha mandíbula aberta
para quem quiser sentir,
o podre e o ocre
das línguas afiadas
umidificando o caminho,
o grito mudo, também preso
da fera humana especular?
O (des) gosto do sal
temperado por ausências,
terrores póstumos
e de uma palidez brutal,
manchada somente, pelo vinho ácido
dos dias iguais do cativeiro,
das horas amargas e vulgares
sob uma meia-luz qualquer
marginal.
Enlutando o crânio,
o pranto, passeando
às avessas da luz,
a ceifa adorada segue,
todo dia, em todo canto,
devorando do animal
as vísceras esplêndidas
estendidas contra o sol.