peso
nos punhos um peso de eras
afundando na terra
como quem se ajoelha para rezar
pela última vez.
e em mim, dentadas de feras,
sorriso latejando,
reflexo definhando
nos desenhos que faço em vão
na fumaça do espelho.
nem mesmo a mais violenta das mãos
seria capaz de marcar tão fundo na carne.
nem mesmo o olhar mais severo do deus mais austero
me deixaria tão imobilizada.
abro os olhos para a luz do dia e
já levanto num ímpeto, tateando meu ceticismo
como quem acabou de ficar cega.
tateio em desespero todos os cantos de mim e
busco nos vãos das portas abertas,
nos azulejos escurecidos,
nas bebidas paradas, na gota que despenca
contínua
da torneira da cozinha.
música para meus ouvidos
exaustos de me sentirem urrar
silêncios que reverberam
em todos os becos
que criei em meus dentros.