Que Falta Faz Uma Musa Inspiradora!...

Anos depois da frustração de um segundo,

Mas também perdido casamento, para o mundo

Dos sonhos resolvi voltar, escrevendo uma poesia...

Ah! Mas nenhuma rima se inflamava no papel...

Era como parar uma pintura numa cena vazia,

Sem a emoção que me servia de pincel...

Onde a inspiração? Redescobri os sons esquecidos

Dos meus boleros e tangos preferidos...

Então, os acordes de “Caminito”, “Noche de Ronda”

“El día en que me quieras” e outros, singraram

Os mares da saudade dolorida. Ah! A solidão sonda

Sempre com sadismo os sons que me encantaram!...

Meu Deus, fazia tanto tempo que o ofício

De poetar não exercia!... Mas ali não parecia difícil

Retomá-lo. Peguei caneta e papel, e busquei o poetar,

Enquanto os tangos, como asas deltas da emoção,

Me elevavam a alma em giros soltos pelo ar,

No agitado e inebriante vôo da Inspiração!

Como um Vinicius recriando sua Garota de Ipanema

Já me sentia, ouvindo os sons que inspirariam o poema!

Mas o poema não nasceu... Confesso, não me entendi...

Claro que a emoção da música era emoção passada,

De tempos e amores perdidos e acabados. Mas, havia ali,

Inspiração para mil poemas e, no entanto, nada!

Da minh’alma, nada para o papel ainda houvera fluído!

Minha mão estava inerte e o verso continuava esquecido...

Quando os tangos pararam e o meu poema de amor ainda não

Havia nascido, vi que meu quarto vazio era causa reveladora:

Para o meu poema de amor, não me faltava inspiração

O que me faltava – pobre de mim - era a musa inspiradora!...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 06/08/2007
Reeditado em 19/10/2008
Código do texto: T595408
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