Que Falta Faz Uma Musa Inspiradora!...
Anos depois da frustração de um segundo,
Mas também perdido casamento, para o mundo
Dos sonhos resolvi voltar, escrevendo uma poesia...
Ah! Mas nenhuma rima se inflamava no papel...
Era como parar uma pintura numa cena vazia,
Sem a emoção que me servia de pincel...
Onde a inspiração? Redescobri os sons esquecidos
Dos meus boleros e tangos preferidos...
Então, os acordes de “Caminito”, “Noche de Ronda”
“El día en que me quieras” e outros, singraram
Os mares da saudade dolorida. Ah! A solidão sonda
Sempre com sadismo os sons que me encantaram!...
Meu Deus, fazia tanto tempo que o ofício
De poetar não exercia!... Mas ali não parecia difícil
Retomá-lo. Peguei caneta e papel, e busquei o poetar,
Enquanto os tangos, como asas deltas da emoção,
Me elevavam a alma em giros soltos pelo ar,
No agitado e inebriante vôo da Inspiração!
Como um Vinicius recriando sua Garota de Ipanema
Já me sentia, ouvindo os sons que inspirariam o poema!
Mas o poema não nasceu... Confesso, não me entendi...
Claro que a emoção da música era emoção passada,
De tempos e amores perdidos e acabados. Mas, havia ali,
Inspiração para mil poemas e, no entanto, nada!
Da minh’alma, nada para o papel ainda houvera fluído!
Minha mão estava inerte e o verso continuava esquecido...
Quando os tangos pararam e o meu poema de amor ainda não
Havia nascido, vi que meu quarto vazio era causa reveladora:
Para o meu poema de amor, não me faltava inspiração
O que me faltava – pobre de mim - era a musa inspiradora!...