O que quer uma mulher
Ouçam senhor sizudo morávio
e neológico francês o que quer
o vasto negro e insondável
continente a que chamam mulher
mais que ser objeto-a indomável
apenas ser única é que ela quer.
Ser cortejada de um louco andarilho
sem o saber como Cervantes fez
Mãe de um deus-falo e tão pouco filho
mas sem perder de Maria a jaez
indo adorada por mãe de um caudilho
vê-lo perder-se sem pompa a altivez
Nada mais pede a maldita sem nome
Que vós bem mortos fiquem a eternidade
E não lhe encontre o desejo e a fome
Mas que lhe encaixe uma identidade
Já que o tempo a tudo consome
Também consuma a vossa maldade
O que deseja esse ser que não-é
e mesmo assim em si sente orbitar
as tão profusas pulsões inconscinentes
Tão pouco almeja, enfim tenham fé
que quer apenas um certo lugar
onde dispor seu sujeito indigente
Mas esse ser e não-ser delicado
por mais que ache o viver desatino
e leve o peso sem tê-lo buscado
inda que sofra não larga o destino
qual dócil anho suporta calado
dando ao viver um tal qual que divino
E mais o que poderia querer
que vossa douta ciência olvidasse
pois do mau fado aceitou ser cativa
só se a vendo na Terra a sofrer
um deus confuso ao céu a elevasse
e de mortal lhe fizesse uma diva.