Miudezas infinitas
Não me veja tanto
e tão frontalmente
com esse olhar linear
que ignora o ser
do meu dentro
e verso,
um e muitos versos,
escuros, vazados,
fendas, babados,
rasuras não aparentes
borrões e poros
mapas e asperezas
suor e chão
escritos em meus pés.
Não espere me ter
na aparência dos olhos
sem ver-lhes a fome
a saliva e o desejo
a boca do cristalino
a língua do ouvido
a trama enovelada do cabelo
a bacia dos ombros,
o poema
do rosto, o riso
das mãos, o testemunho
dos detalhes,
essas vírgulas
e miudezas infinitas
onde pousa o sagrado
corpo contorcido
qual árvore do sertão
e sementes lançadas
ao colo, à saia do vento,
e à terra cor de boca
úmida de palavras.