punho

pelos vãos de meus dedos

acumulo a poeira dos tempos

magistrais, temerosos, ferrenhos,

tempos de medos e desmedos.

tempos de riscos metafóricos e riscos vermelhos

tempos de morte em vida, tempos de vida desmedida

e pensando em tanto tempo guardado nos vãos dos dedos

sinto na carne mãos invisíveis afagando o peito

quando na verdade querem as minhas entranhas e

apertam meu coração por dentro

com punhos de quem já é ferro por inteiro.

eu, deitada, sorrio com a certeza da ingenuidade

de me deixar enganar pelos gestos de alento.

acredito na sensação do afago e corajosamente

me deixo ser esmagada por dentro.

corajosamente me deixo por dentro e

agora sorrio com menos brancura e menos intento,

distribuindo dentes de espelho.