poema
eu dei a luz ao meu filho sozinho
sem ventre
sem macho
eu dei a luz ao meu filho sozinho
sem culpa
sem asco
eu dei a luz ao meu filho sozinho
morri no parto
sorri ao passo
vivi a vida
ao raio que me parta
eu dei a luz ao meu filho sozinho
ele nunca me agradeceu
ele nunca me percebeu
deu dei a luz ao meu filho sozinho
e não o criei, admito
ele o fez no grito, admiro
eu dei a luz ao meu filho sozinho
e, apaixonado pelo que convém
ele não pariu mais ninguém
eu dei a luz ao meu filho sozinho
eu, cigarro, vinho
eu, descaso, arrimo
eu dei a luz ao meu filho sozinho
o filho do puto me enche de orgulho
ele é toda primazia, bem antes de todo entulho
eu dei a luz ao meu filho sozinho
com a mente doentia
e puta agonia
...um quê de poesia, sabe?
eu dei a luz ao meu filho sozinho:
foi um fim estranho
e sem sentido