poema

eu dei a luz ao meu filho sozinho

sem ventre

sem macho

eu dei a luz ao meu filho sozinho

sem culpa

sem asco

eu dei a luz ao meu filho sozinho

morri no parto

sorri ao passo

vivi a vida

ao raio que me parta

eu dei a luz ao meu filho sozinho

ele nunca me agradeceu

ele nunca me percebeu

deu dei a luz ao meu filho sozinho

e não o criei, admito

ele o fez no grito, admiro

eu dei a luz ao meu filho sozinho

e, apaixonado pelo que convém

ele não pariu mais ninguém

eu dei a luz ao meu filho sozinho

eu, cigarro, vinho

eu, descaso, arrimo

eu dei a luz ao meu filho sozinho

o filho do puto me enche de orgulho

ele é toda primazia, bem antes de todo entulho

eu dei a luz ao meu filho sozinho

com a mente doentia

e puta agonia

...um quê de poesia, sabe?

eu dei a luz ao meu filho sozinho:

foi um fim estranho

e sem sentido

Carlos Cortêz
Enviado por Carlos Cortêz em 23/03/2017
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