ENTERRO DE JUDEU

Não quero flores,

Embora as amasse muito em vida,

Mas, respeitem meus amigos goim,

Que as trouxerem para minha homenagem,

Só as deixem, bem longe de mim...

Por mais ou por menos que eu tenha sido na vida,

Quero ser enterrado em solo virgem,

Ao pé da Serra de minha família,

Nos sertões do Seridó, aos pés de minha umbarana...

Na estrada pedregosa que liga nada a lugar algum,

Local de nascimento de minha "abuella",

Deixem-me lá, sem sinalização, para voltar ao pó,

De onde eu vim um dia...

Se não for possível,

Que ao menos seja em solo sagrado,

Em um caixão feito de madeira bem simples,

Desses que usa-se para carregar tomate, pimentão, cenoura...

Quero, por mais doloroso que possa parecer,

Ter meus pelos do corpo totalmente raspados,

E meu corpo inerte, lavado por tornadiços como eu,

Ao som das velhas cantigas que falam do "Olam chabá"...

Mas não afastem de meu corpo morto,

Àqueles que, desejam rezar por mim em seus corações,

Em qualquer língua, credo,

Mas em silêncio, para não perturbar meu sono eterno...

Quem desejar fazer for mim o luto dos patriarcas,

Que o faça da maneira "anussim",

Comendo durante sete dias,

Sentado no chão...

Mas lembrem-se,

E disso guarde verdadeiramente a tradição,

Joguem toda a água da casa fora,

Para o anjo da morte, ao lavar a espada, não levar outro irmão...

ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS
Enviado por ELIZIO GUSTAVO MIRANDA DOS SANTOS em 20/03/2017
Código do texto: T5947018
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